domingo, 23 de agosto de 2009

CRIATURAS CRIADORAS


Temos mãos para fazer, terreiros para varrer, histórias para contar, amor para compartilhar, crianças para brincar, o desejo para escrever, a cabeça para pensar, o coração para refletir, o nosso mundo para transformar.

No rabo do fogão a lenha aprendi a importância e valor de um bolo de fubá na brasa, de um frango caipira CRIADO pelo meu pai na horta de casa. As verduras orgânicas dispostas como flores alegravam e decoravam nossas mesas e brincadeiras. O porquinho CRIADO ao longo do ano alegrava o natal.

Depois, os filhos CRIADOS se mudavam para a capital.

Os CRIADOS em minha casa nunca tivemos, fomos nós CRIADOS por uma família sem estudo formal e com muito amor para compartilhar. CRIATURAS que CRIARAM.

Uns são CRIADOS na favela, outros CRIAM galinhas, outros, encantos.

Uns CRIAM amor, afeição, outros, pavor.

Uns CRIAM problemas, outros propõem temas, um cinema.

Que influência pode ter tudo isso enquanto formação?

Não somente a influência, mas a formAÇÃO da nossa vida infanto-juvenil-adulta, afinal “somos aquilo que fazemos com aquilo que fizeram conosco”. CRIAMOS a partir de como somos CRIADOS.

Como diz a arteducadora e mãe Lucia Vernet, temos todos enormes desafios de criadores, mas muitas motivações de criaturas.

Um brinde a todos aqueles que ainda varrem com tranquilidade o terreiro, amassam um pão, cuidam das plantas, dos filhos, param para preparar e dividir com amigos a alegria de uma comida caseira.

Um brinde aos arteducadores, filósofos, artistas, poetas e todos aqueles que podem ainda pensar (e agir) sobre a importância de tudo isso em nossas vidas.

Um brinde a todos aqueles que batalham para que as suas casas e vidas sejam ambientes pedagógicos sustentáveis, para que um dia então possamos de fato deixar de usar o termo “meio ambiente” para falarmos somente do “ambiente” do qual fazemos parte, para que com solidariedade, possamos brincar com responsabilidade, transformando assim nossas vidas, nossas crianças e nossa história.

Enquanto isso....

peneiro palavras

fragmentos, brincadeiras de um tempo que passou

e se passou ... passou

formigas pretas, amarelas, pequenas, grandes...

todas inexoravelmente chegam lá

dentes pretos de tristeza e descaso

o sorriso ingênuo e sábio que me desconstrói

grilos cantam a magia da floresta e

um passarinho insistente repete incansavelmente a mesma música

louva me Deus que eu nunca mato

há rumores que traz sorte

peneiro palavras

rios inventados por Barros

peneiro...

peneiro...

sem eira nem beira

à beira de um ataque -

descanso o esqueleto nelas,

as impronunciáveis

Tyr Peret

Mestre em Artes – Tradução Bilíngue / University of Westminter – Londres

Diretora de Tradução como Ferramenta Pedagógica e Intercultural do IDEA 210

Membro do Comitê Gestor do IDEA 2010 – VII Congresso da IDEA -International Drama/Theatre & Education Association

Colaboradora da Rede Brasileira de Arteducadores - ABRA

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